Long Hat House: empreender no setor de games

Desenvolvedora de jogos fundada pelos programadores mineiros Lucas Mattos e João Brant, a Long Hat House ganhou destaque no universo dos games em todo o mundo com o jogo Dandara. Com a personagem principal baseada em Dandara dos Palmares, o jogo foi eleito um dos dez melhores do ano pela revista Time. Além de reconhecimento, Dandara trouxe para a empresa investimentos e um acordo com a publicadora Raw Fury.

A história da Long Hat House começou anos antes, quando Lucas e João começaram a observar que jogos independentes estavam, cada vez mais, se popularizando. “O acesso a esse tipo de jogo antes era muito difícil, mas a internet começou a tornar mais acessível a distribuição de jogos. Começamos então a ver empresas novas e independentes começando a fazer sucesso, com jogos desenvolvidos por uma ou duas pessoas”, lembra Lucas. 

Ele e o sócio, que tinham o sonho de trabalhar na área, viram que poderiam fazer isso sem precisar sair do país, onde o mercado de games era maior. Lucas conta que era um mercado novo, crescente e em que desenvolver e lançar games para smartphones se tornava mais simplificado. 

Mas, naquela época, lançar um jogo na PlayStore ou no iTunes era mais fácil do que em uma plataforma de jogos, por exemplo, para vender para Nintendo Switch ou PlayStation. “Era muito difícil você conseguir acessar a plataforma como desenvolvedor”, explica Lucas. Desde então, o cenário tem mudado. O sócio da Long Hat House conta que, hoje, a Steam (uma das maiores plataformas de games) permite que desenvolvedores independentes publiquem seus jogos.

Outra evolução no mercado aconteceu com as publicadoras. “Antes, elas lidavam com grandes empresas, mas à medida que os jogos independentes se popularizaram, surgiram muitas publishers independentes, que começaram a fazer esse contato. Então, assim, esse ambiente de publicação também se tornou muito mais acessível. O mercado é muito diferente e hoje você consegue esse tipo de acesso. Ainda é bem concorrido e exige que você entregue bons projetos, mas produzir e lançar games é, sim, possível”, diz Lucas.

 

Mercado mineiro

“O mercado mineiro de games ainda não é muito fértil: existem poucas empresas de sucesso aqui e muita coisa precisa ser desenvolvida. São poucas pessoas para compartilhar experiências e debater a indústria localmente, e isso acaba dificultando um pouco o desenvolvimento do campo. Em estados como Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, o ambiente é mais próspero, há mais mão de obra, mais espaços para troca de ideias, tudo um pouco mais acessível, inclusive o fomento”, diz Lucas. 

Tanto ele quanto o sócio fazem parte da Associação Mineira de Jogos Digitais, criada em 2016 para impulsionar o crescimento da indústria de desenvolvimento de games de Minas Gerais, por meio da troca de informações, da criação e organização de eventos e da divulgação dos jogos dos associados. Junto dos empresários e desenvolvedores do setor, Lucas conta que a Associação está trabalhando com políticas públicas, junto à prefeitura de BH e ao estado e aproveitando a Lei Paulo Gustavo para pensar em mais investimentos.

Para o fundador da Long Hat House, nem tudo no cenário local é ruim. Apesar dos desafios de estar mais distante das publicadoras e de grandes eventos do setor, estar no mercado mineiro pode ser promissor para empreendedores da área. “Estamos desbravando a indústria local e, por isso, estamos mais à frente e conseguimos ganhar uma posição de destaque. Então tem também muito otimismo! O cenário tem melhorado muito e, para quem está presente em Minas Gerais, a gente está em um momento de organização, que eu acho que leva a um potencial de crescimento muito forte”, explica.

 

Dicas para quem quer empreender na área de games

Conheça bem a área e escolha qual o seu foco de atuação

Para Lucas, é essencial entender quais as especificidades do trabalho na área de games, relacionadas a cada tipo de produto ou serviço, já que é um campo amplo e que exige foco. “Se você quer trabalhar, por exemplo, com modelagem 3D, como em God of War, esse é um tipo de caminho para trilhar. Agora, se você quer fazer um jogo mais autoral e com mais liberdade criativa, é um segundo caminho, que tem muito a ver com ser multitarefa. São desafios diferentes”, diz.

Faça parte da comunidade de desenvolvimento

Compartilhe recursos, conhecimento e troque experiências com outras pessoas na área. Lucas lembra que, por ter trabalhado no desenvolvimento do jogo Dandara em um escritório compartilhado, recebeu ajuda de desenvolvedores e designers de outros projetos que dividiam o espaço com ele e o sócio. “Davam dicas e até colocavam a mão na massa com a gente. Esse tipo de troca é muito importante”, diz.