Carola Castro é sócia-fundadora e coordenadora de ações estratégicas da Nonada Criações e idealizadora e sócia-fundadora da IBI Literrário, empresa social voltada ao fomento, difusão, democratização e internacionalização da literatura independente. Cientista do Estado, mestre em Direito, escritora e artista, Carola buscou em sua trajetória profissional e pessoal desenvolver ações e projetos com foco no impacto social e direitos humanos.
Nesta conversa, ela fala sobre literatura digital, autopublicação e a profissionalização do setor. Para ela, ao mesmo tempo em que sistemas digitais trazem muitas possibilidades e facilitam o trabalho de escritores, é necessário um compromisso crescente com o desenvolvimento da arte e das técnicas literárias. É um esforço que deve partir de autores e demais profissionais do campo, mas que demanda investimento e apoio de sistemas de mediação, para que a literatura, como campo profissional e artístico, se desenvolva.
Sebrae Minas: Como a literatura digital tem impactado a autopublicação e a literatura independente?
Carola Castro: A literatura digital traz mais condições para escritores trabalharem sozinhos. E isso passa também pela questão financeira: o investimento que o escritor precisa fazer para lançar seu próprio livro digital é muito menor. O fato dele conseguir fazer isso sozinho é um grande incentivador e é uma porta de entrada, mas eu acho que tem que continuar sendo apenas a porta de entrada. Nós precisamos de sistemas que ajudem escritores a se tornarem profissionais ou a ganhar maior relevância, se assim eles quiserem.
É uma coisa muito estranha se pensar, por exemplo, sobre como o Itamar Vieira Júnior estourou de uma hora para outra. É uma literatura que é fantástica! É muito bom o que ele faz, mas não era para ser só ele. E é só ele, porque faltam sistemas de mediação que mostrem que, para que a escrita amadureça, você precisa pensar no narrador, no leitor, no fio narrativo; que o escritor vai precisar das estruturas do sistema editorial, porque não tem como fazer sozinho, mesmo com a literatura digital.
O que leva um autor hoje a não procurar esse sistema, a fazer autopublicação?
A literatura independente talvez seja a arte mais solitária. E há vários fatores que levam o escritor a não procurar ajuda externa. Primeiro, o acesso financeiro, porque no campo literário isso ainda não está muito estabelecido. No audiovisual o sistema está balizado, já há uma expectativa em relação à contratação e a valores pagos para, por exemplo, serviços de edição ou direção. Na literatura isso acontece por meio de relações informais, entre amigos e conhecidos e, muitas vezes, por meio de um trabalho solitário e da autopublicação.
É muito importante, também, estabelecer melhor os papéis dentro do setor, ajudar as pessoas a entenderem onde elas se encaixam na estrutura literária. Nem todo mundo que lê ou que gosta de escrever tem que ser escritor: pode ser revisor, editor ou ajudar os outros a desenvolver ideias e técnicas.
É preciso de um olhar mais profissionalizante sobre a literatura?
Eu acho que a literatura é, de alguma forma, a base de todas as outras artes, é ali que a gente constrói a narrativa, constrói o mundo que a gente quer. Só que a gente precisa repensar seus processos e se atualizar sobre o que está acontecendo, porque estamos falando de indústria, de trabalho e de geração de emprego e renda. A profissionalização exige aprimoramento mesmo, por isso é muito importante a gente falar sobre isso.
Como escritores que estão em um contexto da autopublicação podem buscar apoio e aprimorar seu trabalho?
Hoje a gente tem algumas associações, laboratórios de escrita e de edição que trabalham com o desenvolvimento do autor. E uma coisa muito legal é também procurar editoras que tenham algum espaço para aprendizado e crescimento, porque editores com mais experiência vão fazer com que esse escritor se desenvolva. Uma vez que a gente consegue desenvolver o escritor, a literatura dele automaticamente vai sair melhor. Outro ponto importante é: as editoras procuram escritores de continuidade, que não vão parar em um único livro. E essa continuidade exige que a pessoa não tenha tanta pressa para publicar. Então, se você é escritor e começou uma nova obra, procure redes para você participar, procure laboratórios para entrar e não coloque a sua primeira publicação como a principal ou a última.