No universo da produção cultural, a interseção entre arte e negócio é um desafio que artistas e gestores culturais enfrentam diariamente. Diogo Machado, presidente da Fundação Araguarina de Educação e Cultura (FAEC), compartilhou conosco sua visão sobre como a cultura pode ser entendida e transformada em um negócio viável. Suas reflexões oferecem insights valiosos sobre a relação entre a produção cultural, seu valor econômico e os desafios enfrentados pelos artistas.
Definindo a cultura como negócio
Diogo Machado destaca a importância de compreender a produção cultural como um produto formado por custos e trabalho. Ele lembra que, frequentemente, artistas constroem suas obras mais como expressões de sentimentos do que como produtos comerciais. No entanto, ao identificar todos os elementos envolvidos na execução de uma obra, é possível enxergar a cultura como um negócio. Esse processo pode ser particularmente desafiador para artistas cênicos e musicais, mas o entendimento da cultura como um negócio começa com a conscientização do artista sobre seu papel econômico.
Essa conscientização também ajuda a manter o equilíbrio entre o valor simbólico da cultura com a necessidade de gerar receita. “Quando o artista entende o trabalho dele como um negócio, ele começa a dar valor financeiro para todo esse processo", diz Diogo.
Organizações culturais como agentes de equilíbrio
No movimento de busca pelo equilíbrio entre a preservação dos valores artísticos e a sustentabilidade econômica, é vital o papel das organizações culturais. A formalização dessas organizações como instituições ou cooperativas empodera os artistas, permitindo uma distribuição eficiente de funções dentro do grupo. Segundo ele, além dos benefícios fiscais, a colaboração entre empresas e organizações culturais contribui para um impacto social, aproximando a cultura da comunidade.
“A organização eventualmente apoia um estudante por meio de uma oficina cultural, financiada por uma empresa. Um dia, lá na frente, esse estudante vai querer estar nesta empresa, porque irá se enxergar nela, vendo-a envolvida com a comunidade. O grande desafio é fazer com que os diretores vejam isso, esses resultados não tão tangíveis das organizações culturais. Fazer eles entenderem que, às vezes, é importante apoiar o intangível, aquilo que está além do marketing. Porque todo o restante a gente consegue mensurar, mas o impacto causado em um território, através do impulso das organizações culturais, não é tão mensurável; pode ser até mesmo um aluno que ficou mais disciplinado e que as notas melhoraram”, conta Machado.
Por isso, é importante que as empresas compreendam esse valor que a cultura proporciona à comunidade, e, mais, que esse impacto comece por dentro. Para Diogo, a construção de parcerias internas, envolvendo os próprios funcionários das empresas e suas comunidades, é um desafio a ser superado, mas os benefícios são maiores do que as dificuldades.
Profissionalização e educação
Diogo também destaca o avanço na profissionalização dos artistas, que estão mais preocupados com a qualidade de sua arte do que com questões ideológicas. A busca por cursos e capacitação reflete um movimento em direção à compreensão do negócio por trás da cultura. Segundo ele, apesar dos desafios educacionais, a interiorização desse conhecimento é fundamental para a valorização do trabalho artístico, contribuindo para a construção de uma sociedade mais rica culturalmente e profissionais mais capacitados.
Assim, a transformação da cultura em negócio é um desafio complexo, porém ao equilibrar o valor simbólico da cultura com a necessidade de receita, ao envolver organizações culturais e ao investir na profissionalização e educação, artistas e gestores culturais podem construir pontes entre a expressão artística e o sucesso econômico. Este diálogo é essencial para garantir a vitalidade e a sustentabilidade do setor cultural no cenário contemporâneo.